Errais por não conhecer as escrituras e nem o poder de Deus

 

Jesus respondeu: —Como vocês estão errados, não conhecendo nem as Escrituras Sagradas nem o poder de Deus. Pois, quando os mortos ressuscitarem, serão como os anjos do céu, e ninguém casará. Vocês nunca leram no Livro de Moisés o que está escrito sobre a ressurreição? Quando fala do espinheiro que estava em fogo, está escrito que Deus disse a Moisés: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.” E Deus não é Deus dos mortos e sim dos vivos. Vocês estão completamente errados! – Mc 12.24-27

Os sacudeus eram uma facção religiosa do povo de Israel surgida no período interbíblico. Uma das características de suas crenças era sua visão materialista da Bíblia. Eles não acreditavam em anjos, nem em espírito e nem na ressurreição. Foi acerca deste último tema que eles vieram questionar ao Senhor Jesus. Eles tinham sérias divergências com os fariseus acerca da ressurreição. Os fariseus, apesar de sua religiosidade agressiva, eram mais ortodoxos em suas crenças. Os fariseus criam na ressurreição. Neste ponto, os saduceus sabiam, Jesus concordava com os fariseus.

Eles tentaram mostrar a Jesus a impossibilidade da ressurreição contando uma história de uma mulher que ficou viúva e depois deve outros homens que foram seus maridos também, até que ela mesma morreu. Se ressurreição existisse, quão grande seria a confusão, pois, vários homens foram seus maridos. De qual ela seria esposa numa suposta ressurreição? Eles achavam que haviam pego Jesus num argumento forte contra a ressurreição.

Mas, primeiro Jesus mostrou a fonte de seus erros: eles não conheciam nem as escrituras e nem o poder de Deus. Para evitar erros quanto às coisas espirituais deve-se examinar as escrituras cuidadosamente e sem preconceitos. Deve-se ler a Bíblia com os olhos da Bíblia e não com os olhos de outros. Deve-se ler a Bíblia para ver o que ela diz, e não para achar o que eu quero que ela diga. Deve-se também conhecer e experimentar o poder de Deus através de uma vida de comunhão com Deus na oração, no jejum e com a  mente renovada e santificada. Quando não nos aproximamos da Bíblia com este espírito, corremos o risco de le-la somente para sustentar um determinado ponto de vista. Quando não nos aproximamos do Autor da Bíblia, corremos o risco de criar doutrinas de demônios. Quando não temos comunhão profunda com Deus, vemos o que não existe na palavra e não vemos o que de fato existe. Este era o erro dos saduceus. A ressurreição estava presente do Gênesis à Malaquias, mas eles não viam.

Depois de mostrar a fonte de seus erros, Jesus mostrou-lhes um texto tirado do Êxodo, onde o Mestre conseguiu ver a ressurreição. Foi o texto do terceiro capítulo do Êxodo que mostra o momento em que Deus se manifesta a Moisés e diz: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”. Quando Jesus citou este texto, os saduceus devem ter dito: “E daí? Onde fala de ressurreição aí?”. Acho que eu falaria a mesma coisa. Este texto nem sequer tem a palavra “ressurreição”. Mas, Jesus deu uma demonstração de como devemos nos aproximar da Palavra de Deus. O que Jesus estava mostrando era que, Deus disse “Eu sou” o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, quando estes já haviam morrido a séculos. Se não houvesse ressurreição e a morte fosse o fim para estes patriarcas, Deus teria dito: “Eu fui” o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Mas como Deus é o Deus da ressurreição, Ele disse: “Eu sou” o Deus dos patriarcas, pois, para Deus estes patriarcas estavam vivos. Ele não é Deus de mortos e sim de vivos.

Como pôde Jesus ver a verdade da ressurreição em um texto que aparentemente não tratava daquilo? Isso é um chamado a nos aproximarmos da palavra de Deus com o espírito certo e com o coração aberto, a fim de vermos o que Deus quer que vejamos.

Um dia, conversando com uma irmã, ouvi algo que ilustra isso. Ela me disse que, desde quando se converteu até um certo tempo, ela tinha na cabeça que o cristão era obrigado a guardar o sábado como o povo de Israel guardava. Ninguém tirava isso da cabeça dela. Mas, ela era uma mulher de oração e que gostava de examinar as escrituras. Quando uma pessoa tem uma vida assim, sempre há esperança de que seus pensamentos se alinhem. E foi o que aconteceu. Ela me disse que foi liberta deste pensamento no dia em que deu de cara com o seguinte versículo da Bíblia:

“E, por isso, também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta” – Hebreus 13.12.

Fiquei confuso quando ela me disse que aquele versículo havia libertado sua mente daquele pensamento da guarda do sábado (falo isso com todo respeito àqueles que acreditam que o cristão deve guardar o sábado).

- Mas, irmã – disse eu a ela – o que tem a ver este versículo com a guarda do sábado? Não estou entendendo.

Ela me disse:

- Eu entendi que aí está dito que Jesus santificou seu povo através de um sacrifício que foi feito fora das portas de Jerusalém. Jerusalém era o centro religioso do povo de Israel, era onde estava o templo, era onde se realizava as cerimônias religiosas. Mas, Jesus ofereceu seu sangue fora destas portas, mostrando que a nova aliança deixava para trás as cerimônias judaicas. As cerimônias judaicas eram uma sombra, o Senhor Jesus era a realidade de tudo aquilo, inclusive do sábado. O sábado faz parte da aliança de Deus com o povo de Israel. Eu faço parte da aliança que começou fora da porta, era uma aliança “nova”. O sábado ficava dentro das portas de Jerusalém. A nova aliança começou fora das portas.

Fiquei espantado! Aquela irmã conseguiu ver aquilo tudo naquele versículo que parecia que nem tocava no assunto.

Devemos mesmo orar com o salmista:

“Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei” – Salmo 119.18