Abaixo da superfície

Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia delas – Mt 5.7

Havia um irmão que me chamava a atenção por sua paciência para com sua esposa. Ele era uma pessoa muito alegre e brincalhona. Era o tipo de pessoa que tornava difícil ficar sério perto dele. Onde ele estava, dava para se ouvir de longe o barulho das risadas daqueles que o cercavam. Já a esposa... Eu já vi pessoas de temperamento difícil, mas aquela irmã era um caso à parte. Se ele trazia alegria aonde chegava, ela trazia confusão, raiva, mau humor. Pense numa pessoa esquisita!

Um dia eu não resisti e perguntei a ele aonde ele achava tanta paciência para lidar com a esposa.

- Olha pastor – disse ele – no começo foi muito difícil. Mas um dia numa conversa, entrei num assunto que ela não gostava de falar que era sobre sua infância. Eu sabia que sua mãe havia morrido quando ela era criança e que ela foi criada pelos parentes. O que eu não sabia era de certos detalhes de sua infância. Ela me disse que quando tinha seus seis ou sete anos, sua mãe ateou fogo no próprio corpo, na sua frente. Ela presenciou a mãe queimar até morrer. Quando a ouvi falar aquilo, me enchi de compaixão e entendi o porquê daqueles distúrbios de comportamento. Quem passaria por aquilo sem ficar com suas seqüelas? A partir daquele dia foi mais fácil para eu agüentar tudo.

Aprendi algo naquele dia. Por detrás da maioria dos comportamentos e temperamentos difíceis existem certas feridas e traumas que os causam. Existem pessoas que não conseguem reagir positivamente diante das amarguras da vida e deixam que elas os tornem pessoas amargas. Outros são submetidos às mesmas coisas, mas se tornam pessoas melhores por reagirem bem. Mas, o que fazer com aqueles que não reagiram bem e se tornaram pessoas difíceis? Nos enchermos de misericórdia e ajudá-los no que pudermos. Muitos dos que são doentes de alma hoje, serão curados e se tornarão instrumentos de cura para outros amanhã.